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Logística do CE está entre os alvos dos italianos





Por Nonato Almeida (Jornal O Estado)



O Ceará vem experimentando uma realidade diferente e propulsora. E esse desenvolvimento, puxado pela infraestrutura logística (inclusive portuária e aeroportuária) e tecnológica, por exemplo, vem acelerando e aberto as portas para atração de potenciais investidores. E, nesse viés, a mediação dos consulados honorários mostram sua importância, sendo, por vezes, as principais vias de acesso para o empreendedorismo no Estado. Nesse sentido, Vittorio Ghia, recém-nomeado cônsul honorário da Itália em Fortaleza, em entrevista exclusiva ao Jornal O Estado, traz mais informações sobre o funcionamento do consulado, bem como suas ações e importância para as relações comerciais do Ceará com o exterior.

O italiano é formado na área técnico-científica voltada para setor industrial e Administração de Empresas, em Turim, seguindo a trajetória industrial de seus familiares. Em 2014, veio ao Brasil para instalar uma indústria de concreto pré-moldado, no Pecém – a Polo Multimodal Pecém –, vindo a atuar como diretor geral e CEO desde 2017. O projeto levou 30 meses para ficar pronto.


O Estado. A que se propõe o consulado honorário e qual sua filosofia de trabalho?

Vittorio Ghia. O significado de consulado honorário é que ele depende diretamente do consulado geral, que tem um cônsul geral de carreira, em Recife. O consulado honorário é como se fosse um serviço social – e a maioria das pessoas acha que, na realidade, o cônsul vem a ser pago pelo estado italiano. E o que vai oferecer é um dever, e, na realidade é uma escolha, uma missão. Essa é a realidade do consulado honorário. A estrutura de trabalho é a mesma, e a gente não trabalha para o estado italiano – isso é importante para se entender pela comunidade. Em Recife, tem oito a 10 pessoas, e, para nós, é uma ajuda para comunidade. Em Fortaleza, já chegou a ter, antes, um vice-consulado, e, agora, passou a ter um consulado honorário.


OE. E como o senhor chegou ao consulado?

VG. O cônsul honorário, normalmente, é como uma dinastia. É o antigo cônsul que vem a indicar a estrutura e quem vem a ser o novo. E, na realidade, não aconteceu desse jeito. A comunidade indicou alguns nomes que poderiam ajudar. E a escolha, no final, ficou pela minha pessoa. Os primeiros 30 anos da minha vida foram exatamente na indústria, herança de 13 gerações da família sempre nesse setor e no comércio. Então, a comunidade queria uma figura com mais afinidade nesse mundo.

E, em novembro de 2018 e início de 2019 – depois de um processo que dura mais de um ano –, fui contatado para ver a disponibilidade e possibilidade econômica para gerenciar uma posição como essa. Em maio (do ano passado), foi feita uma primeira reunião com o cônsul geral da comunidade italiana – que, no Ceará, possui 2 mil pessoas. Depois de todo o processo, em novembro, chegou o nome oficial pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália, em que o cônsul geral aceitou o meu nome proposto, e, em 15 de janeiro de 2019, fiquei no cargo. Sou cônsul honorário no Ceará e no Piauí.


OE. Com esse tempo de atividades no Estado, qual sua avaliação sobre a dinâmica recente da infraestrutura local?

VG. Do ponto de vista da economia, está acontecendo tudo agora. Essa ideia do novo porto e o Canal do Panamá, que abriu passagem a navios pelos portos panamares é uma coisa muito boa. O Porto do Pecém passou a ser gerenciado pelos holandeses (Porto de Roterdã). Isso é uma garantia para futuro, pois eles são os principais gestores dos portos do mundo, depois dos coreanos. Houve, também, uma boa ideia de desenvolvimento com a ZPE, que contribui, muito, para o grande crescimento.

Além disso, temos o aeroporto de Fortaleza, gerenciado pela Fraport, que, em um ano de operação, já mostra os frutos do trabalho que foi feito. Os italianos, em 2018, foram os estrangeiros que mais investiram no Brasil – a exemplo da Fiat, Enel, Tim. Outra realidade muito importante, em 2019, é que os estrangeiros ainda serão os que mais investirão no Brasil. Isso porque temos muita afinidade, e o italiano é parecido com os brasileiros – somos cristãos, temos uma língua neolatina enfim, o que facilita –, e não é tão grande como a China, onde é outra realidade bem mais difícil. A área (aqui é) perfeita, no futuro, para fazer negócio, e o meu trabalho é fazer a ponte, trazendo da Itália e colocando lá empreendedores e oportunidades de negócio – o que estamos fazendo.


OE. Nesse primeiro ano, o que pode ser destacado entre novidades e atratividade de investimentos?

VG. Uma coisa muito boa – do ponto de vista da cultura –, nesse meu primeiro ano, tivemos o festival de cinema italiano, que aconteceu em outubro, no Centro Dragão do Mar, pela primeira vez em Fortaleza. E, também – do ponto de vista econômico –, estamos fazendo uma imagem com cidades italianas, particularmente daquela região de onde estou chegando. Descobri, junto ao secretário do Turismo de Fortaleza, que a Capital ainda não tem afinidade – ou acordo assinado para essa troca de afinidades –, e estamos trabalhando para que isso possa acontecer o mais rápido possível. E agora, em dezembro, vamos trocar o local (de funcionamento) do consulado honorário. Antes, era um lugar onde funcionavam várias atividades juntas – como patronato, consulado câmara do comércio ítalo-brasileira –, mas com a finalidade de ajudar a comunidade. Precisamos criar conexões, e vamos ficar no Edifício Humberto Santana, um ambiente mais voltado para o business, e onde teremos mais possibilidades de gerenciar mais contatos com outros níveis de investidores que queiram vir ao Ceará.


OE. E como tem sido a relação com o Governo, visando captar novos investidores?

VG. O Consulado Hororário da Itália, em Fortaleza, tem reponsabilidade por dois estados que são o Ceará e Piauí, respondendo, juntos, por cerca de 11,5 milhões de habitantes, dos quais 2 mil italianos residentes nos dois estados. Temos a Enel, que está investindo muito no setor de painéis solares, e a minha próxima visita será em Teresina para criar conexões. Aqui, em Fortaleza, temos a Sociedade Consular do Ceará, que reúne 24 cônsules que operam na Capital. A maior afinidade com os governos do Estado e Capital vem através dessa estrutura. No último encontro que fizemos, foi exatamente para termos uma sala diretamente no palácio da Abolição, para termos uma maior conexão com o Estado. Podemos contatar outros países como comunidade consular. O meu encargo é Itália-Brasil e vice-versa.


OE. E quais perspectivas de atuação à frente do consulado honorário?

VG. O que estou tentando fazer é entender quantas são as possibilidades, também, no Nordeste. Hoje, 90% dos negócios italianos, particularmente, acontecem no Sul. A Fiat, por exemplo, possui plantas no Brasil – e deve investir R$ 8,5 bilhões (em Minas Gerais) em desenvolvimento e atualização (até 2024). O problema – se podemos chamar de problema – é que sempre o Ceará foi visto mais como uma terra difícil para se fazer negócio – não tendo-se muita certeza do ponto de vista jurídico e administrativo. Estou começando a fazer contatos, também, com muitos prefeitos – como Fortaleza, Caucaia e São Gonçalo do Amarante, que está crescendo muito – exatamente para explicar-lhes o que os investidores estrangeiros querem encontrar aqui. Há situações que as legislações estão mudando rapidamente. Fazer um projeto de uma planta industrial leva um ano e meio ou dois de trabalho. Se mudar todas as regras, de uma semana para outra, o investidor fica meio perdido. E, particularmente, para a nossa comunidade europeia, o problema também fica lá. Essa é a realidade. Estamos tentando criar mais condições e mais afinidade com a realidade local.



OE. Como a zona portuária, aeroportos, centro de conexões aéreas e cinturão digital, por exemplo, podem contribuir nesse sentido?

VG. O hub correspondeu em 90% a 95% do tráfego turístico em 2019, nos primeiros seis meses do ano. O turismo de negócios também tem crescido. Com essas mudanças, estamos fazendo meeting, eventos na Itália – em Turim e Milão, por exemplo –, exatamente para apresentar as possibilidades de investimento que ficam aqui. Também o estado italiano está pendendo muito para as potencialidades do Brasil, junto com o embaixador, em Brasília, e fizeram uma publicação – apresentada no mês passado, junto com o embaixador do Brasil em Roma e Milão –, exatamente para deixar entender aos investidores que têm chegado aqui e ver as possibilidades de investimento.


OE. Quais áreas de investimento são estratégicas para investimentos italianos no Ceará?

VG. Acredito que logística, primeiramente. Hoje temos o maior parque logístico portuário da Sul-América. Hoje, sabemos que, chegando da China, temos 10 dias a menos de viagem da mercadoria, aproximadamente, para chegar ao Brasil, através do Pecém. O primeiro porto brasileiro, da América do Sul, que encontro importante, é o do Pecém, a não mais o de Santos.


A Hamburg e Maersk, que são um dos maiores operadores portuários do mundo – depois que quebraram os coreanos –, com transporte de contêineres, já abriram linha direta com a China. E, há pouco mais de um mês, a MSC também abriu a primeira linha direta com o Mediterrâneo. Isso são os primeiros efeitos. O porto do Pecém, sendo por seu calado natural e um porto offshore, não tem limite de expansão, como Suape (em Pernambuco) – que só pode se expandir no interior, porque tem um limite a partir da terra –, mas aqui não tem limite, e parece perfeito desse jeito.


Também é a mesma coisa com a Fraport (no aeroporto de Fortaleza). Quem chega para fazer turismo, também chega para fazer negócio. A parte do turismo é muito importante. Na realidade, a comunidade italiana mudou muito. Há 20 anos, as pessoas chegavam aqui para mudar o jeito de viver. Depois, há 15 anos, chegava mais gente que fugia da Justiça da Itália. Nos últimos 5 anos, estão chegando empreendedores. É uma mentalidade completamente diferente: é gente que trabalha, que não tem tempo a perder em coisas fúteis, mas em fazer negócios.




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